Crítica | Egon Schiele – Morte e Donzela

 

Egon Schiele – Morte e Donzela traz um retrato delicado sobre a paixão de um artista

 

“Tenho o coração fraco.”
“Pelas damas?”

 

Como grande parte das cinebiografias, Egon Schiele – Morte e Donzela é, em sua essência, uma dedicação do diretor à figura em destaque. Dirigido por Dieter Berner, o longa é, acima de tudo, sobre paixão – sentimento que, quando bem explorado, traz à obra uma relevância muito bonita de assistir. No caso de Egon Schiele – Morte e Donzela, no entanto, a paixão não é suficiente e o roteiro não consegue acompanhá-la, tornando-se quase desinteressante aos olhos do espectador.

Para contar a história do famoso pintor austríaco e expressionista do século XX, Egon Schiele – Morte e Donzela transita entre o presente e o passado. Sempre com tons muito frios, o presente mostra Schiele (Noah Saavedra) em seus últimos instantes de vida recebendo assistência de sua irmã, Gerti (Maresi Riegner). Já os flashbacks contam a história de sua carreira e de sua vida pessoal – desde seus primeiros trabalhos até o casamento com Edith (Marie Jung) – em uma predominância de tons mais quentes e cores vivas. A escolha de transitar entre esses dois tempos traz um toque interessante para a construção da narrativa, deixando o filme mais fluído e dinâmico para o espectador.

Egon Schiele – Morte e Donzela é prioritariamente sobre paixão a medida em que o foco do filme se dá na relação do pintor com suas modelos. O trabalho de Schiele era resumido em desenhar mulheres – normalmente nuas e jovens (às vezes até jovens demais). Mas, para além das telas, o pintor seduzia com muita facilidade todas as mulheres que posavam para ele. Como o filme retrata, Schiele estava sempre se envolvendo com elas – às vezes até simultaneamente – sem se importar em se comprometer ou respeitar os sentimentos alheios.

O filme faz bem em demonstrar essa peculiaridade do pintor ao longo do filme, mas se detém muito a isso: o destaque exagerado para cada mulher que Schiele seduz faz com que o filme se torne cansativo, pois parece andar sempre na mesma linha monótona, sem trazer elementos novos que cativem a atenção. Desse modo, a importância atribuída aos relacionamentos acaba tirando o peso das obras de Schiele (que deveriam ganhar o maior destaque) e também faz com que a única mulher que realmente o cativou (que é a “Donzela” na obra “Morte e Donzela”) seja apresentada muito tarde.

 

Egon Schiele Morte e a Donzela 2

 

Além de negligenciar a própria personalidade de Schiele em prol das mulheres com as quais ele se relacionava, Dieter Berner fez a escolha duvidosa de negligenciar também as polêmicas causadas pelo estilo de vida do pintor em questão. Afinal de contas, o vício que Schiele tinha pelas mulheres e sua preferência por retratá-las nuas acabaram levando o pintor à prisão (por poucos dias), acusado de pedofilia e de conteúdos pornográficos. O diretor, no entanto, optou por não dar importância a isso e por defender Schiele ao usar o discurso de “isso é arte” e ao discutir o assunto em poucos e simples minutos de filme. Assim, torna-se claro o posicionamento de Berner ao adaptar a biografia do artista: seu foco foi romantizar a paixão de Schiele pela arte e pelas mulheres – o que não se torna satisfatório para o espectador, levando em conta o perfil problemático de Schiele.

Apesar disso, Egon Schiele – Morte e Donzela consegue tirar sorrisos e admirações do espectador, pois não deixa de ser um filme esteticamente maravilhoso: o apogeu boêmio é ilustrado através de uma fotografia tão bonita, delicada e colorida que, em determinados momentos, o filme por si só parece uma pintura. O figurino também merece destaque, assim como a química entre Schiele e sua musa, Wally (Valerie Pachner).

Assim, para o bem ou para o mal, Egon Schiele – Morte e Donzela consegue retratar a paixão do pintor de modo contagiante. Para quem não conhece Schiele, o filme não deixa de ser uma biografia notável e agradável – contanto que o espectador não vá assistir ao filme com grandes expectativas.

 

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