Desde criança achava empolgante, filmes com temática de espionagem e, 007 — quando apresentado pelo meu pai, quis conhecer mais sobre o universo do espião britânico. Ian Fleming, ao escrever sobre James Bond, talvez não tivesse a noção da proporção do quê a franquia se tornaria.

Aqui estamos, quase sessenta anos depois do primeiro longa do agente secreto, denominado “Dr. No” estrelado pelo ator Sean Connery que nos deixou em outubro do ano passado. Todos os atores que interpretam o mítico personagem transmite seu legado para as futuras gerações. Seja como uma experiência atemporal, ou sem muito brilho, sendo ela qual for, é para sempre.

Daniel Craig teve a dura missão de fazer o agente se reinventar com roteiros já desgastados de filmes anteriores da franquia. Quando começou em Cassino Royale de 2006, — confesso que não tinha confiança em suas atuações como ator no papel tão importante. A verdade é que ele conseguiu trazer novamente os fãs de 007 de volta as telas do cinema. Mas existe o momento certo para decretar uma despedida. Os roteiristas pensando como dariam um grand finale dessa “quintologia” interpretada por Craig, veio com uma solução impensável. Humanizá-lo foi o caminho perfeito para um apreço ao público com a personagem.

Antes de mais nada, recomendo assistir pelo menos os dois últimos filmes da franquia para compreender os acontecimentos de ‘Sem Tempo Para Morrer‘, é importante para o conceito final. Diferente do restante da saga este não é um filme sobre espionagem, e sim, como um homem pode aflorar sua sensibilidade quando confrontada. O diretor Cary Joji Fukunaga (It) que substituiu Sam Mendes (007 – Operação Skyfall e 007 Contra Spectre), soube contrapor cada cena. As pirotecnias introduzidas nas produções deram lugares a mais diálogos e senso crítico. Considerando a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia e operar independente, foi duramente critica mesmo que nas entrelinhas.

Para iniciar nossa jornada a entrada triunfal de 007 vem com uma abordagem mais direta com tema clássico imortalizado por Monty Norman e John Barry, porém, com arranjos na escalação de Hans Zimmer para a trilha sonora. Nos momentos de ação é nítida sua mão em cada som. Os clichês das narrativas aceleradas antes dos créditos iniciais nos colocam como uma palinha da prévia da trama. Contudo, a abordagem em 007 – Sem Tempo Para Morrer, cria uma situação de um Bond mais vulnerável e sensível, retomando as lembranças de Cassino Royale. O preço da confiança é algo difícil de se conquistar e também perder-lá basta uma explosão.

A perseguição na Itália é daqueles momentos marcantes para filmes do agente secreto, ou ex-agente digamos assim. Reluto que até mesmo Roger Moore e Pierce Brosnan, não tiveram uma introdução tão boa quanto nesse novo título. Se tivesse que reescrever o título para a trama certamente seria, “O Espião que se doou ao Mundo“. Os créditos vêm na performance de Billie Eilish pela música tema de mesmo nome do filme “No Time To Die”. De imediato, recebemos flashbacks para contar a história do vilão Rami Malek, mencionado em Spectre.

Fadigado de suas funções como 007, James vai passar seus dias no caribe precisamente na Jamaica. Até que novamente o mundo necessitará dos serviços do homem com licença para matar. Ainda no país somos apresentados a Nomi (Lashana Lynch) agente 00 que é a nova dona da alcunha de 007. Por sinal, o local é aquele típico lugar de encontro de antigos amigos, onde um velho conhecido Felix Leiter (Jeffrey Wright) lhe conta algo irrecusável. Como em todos os longas, Vésper Dry Martini e mulheres sempre foi seu ponto fraco.

Ana de Armas (Entre Facas e Segredos) a Bond Girl, foge do padrão como mulheres indefesas que necessitam da ajuda do protagonista. Sua personagem apesar de uma curta participação, consegue segurar as pontas e impressiona na atuação.

O inimigo invisível

A organização da Spectre nunca teve coração nas tramas para controlar o rumo do mundo. O ator Christoph Waltz retorna no papel de Blofeld líder da facção. É até interessante que a produção começou em 2019, sem saber que o mundo passaria por uma pandemia global. Na narrativa da trama logo percebemos uma ligação dos efeitos provocados pela C-19, apesar de não haver uma similaridade ou citação no filme. Parece que o diretor Fukunaga, gosta de seguir uma linha de pensamento em países que há regimes totalitários, visto que a ação são quase todas nesses lugares. Até uma simbolização para Che Guevara e o ditador Fidel Castro é notória nos enquadramentos das tomadas, de Cuba. Quando somos apresentados para a nova ameaça invisível e como é contada, até percebemos um déjá vu com DR. NO, fica apenas em detalhes sutis, que contarei mais a frente.

Os polos se encontram

Lynch como a nova 007 consegue transmitir segurança para o papel interpretando sem que você julgue por ser uma mulher. Ela e Craig combinaram bastante nas cenas e nos diálogos, bem como no trocadilho sobre seu joelho ferrado, em que, o ator teve de fazer um breve tratamento na vida real.

Gostaria de falar um instante com vocês, se me permitem sobre Naomie Harris como Moneypenny. Desde sua primeira aparição, acreditei que os produtores dariam um espaço maior,– todavia nunca ocorreu perante minhas expectativas.

Dois velhos SIR a serviço de vossa majestade, Ralph Fiennes como M, não exibe a mesma desenvoltura quando era por Judi Dench. Devemos considerar que o elo afetivo entre Bond e o atual M. Não é de uma mãe para filho, que M na versão de Dench havia com James. O lobby do momento nas diversidades, foram introduzidas sutilmente no Q (Ben Wishaw). Dessa vez, os personagens secundários tiveram papéis menores do que o normal é o caso do ator Billy Magnussen, que interpreta Logan Ash capacho de Safin (Malek), principal antagonista.

Os fantasmas

O vislumbre dos fantasmas do passado traz consequências para o futuro. As escolhas precipitadas de James Bond, fizera cego para respostas que estavam frente aos seus olhos. Para a bela e doce amada Madeleine Swann, os anos nunca parecem ter passado. já que lembranças atormentam seus sonhos. Talvez seja por culta ou trauma, a questão é que por saber demais nunca dormiu em paz. A sensibilidade de James Bond é visível nos momentos em que Swann está presente, também um motivo a mais em continuar a viver.

O fake Satânico Dr. No

Lembro que criaram uma grande festa ao apresentar o elenco para o filme, e Rami Malek como o vilão. Sua atuação em Bohemian Rhapsody, interpretando o cantor Freddie Mercury no drama biográfico, lhe renderam bons frutos para ganhar o papel. Os momentos como a piscina tóxica e as luvas lembram DR. NO, observados no vilão, entretanto, ficam só nessas fanservice. Malek, jamais conseguiria “bater de frente” com Craig, infelizmente, não está a altura dos vilões passados do hall dos icônicos algozes de Bond. A atuação não é ruim, acredito que o diretor quis mostrar uma mente mais doentia e com problemas não resolvidos no passado.

Seu legado é Atemporal

A construção dos últimos quatro filmes e finalizando no quinto é para consolidar os 15 anos de atuação de Daniel Craig como o agente britânico mais conhecidos do cinema. Assim sendo, uma coroação que termina e deixará os fãs estasiados e, ao mesmo tempo, pensativos. Uma despedida de emoção e com perguntas sobre o futuro da franquia. Quais coisas aconteceram e o caminho para escolha de um novo ator para atuar no papel do agente secreto. Há também perguntas se o progresso irá ser introduzido no universo do galanteador com permissão para matar.

No total o longa possui 2h43 com momentos de ação e drama, suavizando o gosto do quero mais para eternizar um final improvável e humano para James, James Bond.

Nota da crítica: 3,5/5

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