A indústria de games, outrora um farol de inovação e bilheterias estratosféricas, atravessa um dos seus momentos mais turbulentos. Demissões em massa, fechamento de estúdios icônicos e lançamentos que “flopam” como dominós – tudo isso não é segredo. Como noticiamos em nosso site, mais de 10 mil profissionais foram demitidos nos últimos 12 meses, com gigantes como a Epic Games, Xbox, Sony, Unity cortando equipes inteiras. Mas o que está por trás dessa crise? Muitos apontam para uma agenda “woke” e progressista que, segundo críticos, prioriza narrativas ideológicas em detrimento de mecânicas sólidas e apelo comercial.
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Consultorias como a Sweet Baby Inc., acusadas de injetar pautas de diversidade forçada em roteiros, tornou-se o bode expiatório perfeito para flops como Concord (que vendeu míseros 25 mil cópias) e Dustborn. No entanto, um que resplandece e brilha no horizonte: Dispatch. Com mais de 131 mil jogadores simultâneos no Steam em seu lançamento inicial, o jogo da Adhoc Studio – fundada por ex-veteranos da Telltale Games – parece desafiar essa previsão. E se o sucesso de Dispatch for a prova de que até os mais “progressistas” estão se adaptando ao que o público realmente quer? Essa é a teoria que exploro aqui: uma rendição sutil às demandas do mercado, onde ideais pessoais são engolidos pelo imperativo do lucro.
Fique ciente de que esta publicação não possui qualquer tipo de viés ideológico, político ou pessoal. O conteúdo apresenta uma análise editorial baseada exclusivamente nos profissionais envolvidos — atores e desenvolvedores do projeto Dispatch —, bem como em informações públicas, recepção do público e no sucesso inesperado refletido na aprovação da comunidade gamer. Todas as observações aqui descritas têm caráter informativo e analítico, sem a intenção de promover ou desmerecer qualquer indivíduo ou grupo.
Observe que o artigo foi escrito no dia do lançamento dos episódios 7 e 8, encerrando o cronograma de lançamento da primeira temporada do jogo. No entanto, aguardei um tempo para publicar o conteúdo, pois o título foi indicado à categoria de Melhor Estreia Indie no The Game Awards 2025, prêmio vencido por Clair Obscur: Expedition 33.
A Crise da Indústria: Quando o “Woke” Virou Veneno?
Vamos aos fatos frios. A era pós-2020 viu um boom de narrativas inclusivas em games, impulsionado por movimentos como #MeToo e Black Lives Matter (BLM).
Estúdios como a BioWare e a Obsidian Entertainment abraçaram isso com unhas e dentes, —; a própria BioWare sempre foi mais liberal um dos motivos de Mass Effect ser o meu jogo favorito da era moderna da indústia dos games — resultando em títulos como Dragon Age: The Veilguard (lançado em 2024 e criticado por diálogos ruins e trama desgastante); Avowed (da Obsidian, que prometia profundidade, mas entregou mecânicas rasas e foco excessivo narrativas pouco interessante) e South of Midnight (da Compulsion Games, que misturou folclore sulista com pautas ambientais e raciais de forma que soou forçada para muitos). Sem citar Concord, considerado um dos maiores fracassos de vendas entre jogos classificados como AAA na indústria contemporânea dos games.
Esses jogos não foram os únicos que usuários os colocaram como vilões; Suicide Squad: Kill the Justice League e Forspoken também patinaram, acumulando críticas não só por bugs, mas por roteiros que pareciam lições de aula de sociologia em vez de aventuras épicas. Todos esses relatos são de trechos que poderiam ser encontrados em diversas redes sociais como Reddit, X, Facebook, Instagram e outros.
No centro dessa polêmica está a Sweet Baby Inc., uma consultoria de narrativa que trabalhou em projetos como God of War Ragnarök (sucesso relativo) e Alan Wake 2, mas é vilanizada por supostamente “estragar” jogos com quotas de diversidade —; o conceito de pluralidade sempre deve existir. Há argumentas que isso afasta o público jovem – o maior consumidor de games AAA –, priorizando representações andróginas, personagens “sem gênero definido” e mensagens anti-capitalistas que soam como propaganda. Resultado? Baixa adesão na aquisição e estúdios como a Arkane (de Redfall) fechando as portas.
Contudo, e se isso não for só teoria da conspiração? Dados do SteamDB mostram que jogos com apelo “tradicional” – pense em Black Myth: Wukong —, que desenvolvedores foram acusados de misoginia — trouxe heróis musculosos e mitologia sem estenótipos – explodiram em 2024, enquanto os “politicamente correto” parece afundar.
Dispatch: O Antídoto Inesperado
Aqui entra Dispatch, o jogo de ação e narrativa da Adhoc Studio que, em poucas semanas, cativou 220 mil almas simultâneas – números que rivalizam com indies como Hades 2 e superam flops AAA recentes. O que torna Dispatch especial? Seus personagens. Não estamos falando de corpos hiper-realistas ou fan-service qualquer (embora haja apelo visual), mas de carisma puro: heróis definidos fisicamente, com personalidades magnéticas que não se perdem em ambiguidades andróginas ou monólogos sobre privilégio branco.
Robert Robertson (dublado por Aaron Paul) é um anti-herói cínico e frio; Chase (Jeffrey Wright) traz gravitas sem vitimismo; Invisiva (Laura Bailey) é feroz e sedutora, sem precisar de rótulos — mesmo que seja uma personagem que esteja questionando o capitalismo. É “gooner” no sentido bom: atraente, cativante, o tipo de elenco que faz você se importar com a história em vez de pausar para debater política.
O sucesso não é coincidência. Dispatch vendeu como pão quente na chapa porque entrega o que o público anseia: diversão escapista, com toques de profundidade que não forçam a barra. Há diálogos “woke” – menções sutis a igualdade e diversidade –, mas eles fluem organicamente, como tempero em vez de ingrediente principal. Nada de sermões intermináveis como em The Veilguard. Isso exibe a tese: o mercado falou alto. Com 220k jogadores, fica claro que “belo e carismático” vence “aulas de sociologia”.
Embora eu me considere bastante liberal e distante de qualquer viés conservador em minhas atitudes. Ainda assim, identifiquei uma tática clara do estúdio para impulsionar o sucesso comercial; resgatar mecânicas de hits passados, agora temperadas com mensagens sociais do mundo atual.
Um dos fatores determinantes é a capacidade de criar um laço sentimental com personagens que, outrora, eram mafiosos envolvidos em latrocínio, lavagem de dinheiro, golpes e outras atividades ilícitas. Em tese, isso soaria tenebroso para qualquer jogador, mas o estúdio conseguiu o oposto; o público não se importa com o passado sombrio desses agora heróis, mas sim em redimi-los, torcendo para que cada um tenha sua história de redenção e um final feliz.
O Elenco concorda com essa diretriz Estratégica da Adhoc Studio?
Agora, o plot twist que amarra a teoria. Grande parte do time de dubladores e colaboradores de Dispatch tem histórico de engajamento em causas sociais inclusivas. Aaron Paul, voz de Robert Robertson/Mecha Man, é conhecido por seu apoio a iniciativas de impacto. Jeffrey Wright (Chase) é reconhecido por seu ativismo em prol da sociedade de minorias. Matthew Mercer e Laura Bailey (Shroud e Invisigal), do Critical Role, participam de ações beneficentes variadas. MoistCr1TiKaL (Sonar) e Jacksepticeye defendem algumas abordagens de modo mais sarcásticas quando o assunto são os “conservadores”. Alanah Pearce completa o quadro como uma voz ativa contra injustiças na comunidade gamer envolvendo mulheres.

Mas a Adhoc Studio – nascida das cinzas da Telltale, que faliu em 2018 após flops como The Walking Dead: The Final Season – aprendeu a lição. Seus fundadores, ex-Telltale, viram de perto como roteiros ideológicos podem afundar navios. Dispatch parece um cálculo frio: contratar vozes conhecidas para credibilidade (e marketing positivo), mas podar as arestas radicais para apelar ao mainstream. Diálogos inclusivos? Sim, mas sutis – “negados” em prol do carisma.
É como se o estúdio dissesse “Temos nossas convicções, mas o aluguel não se paga com tweets virtuosos“. Resultado? Sucesso comercial que valida a teoria: ideais pessoais dobram-se ao imperativo do lucro quando o risco de falência bate à porta. Um milhão de cópias vendidas em menos de dez dias, mesmo sem todos os episódios disponíveis, demonstrou o desejo e a ansiedade dos jogadores por personagens que realmente conversam com o público. Agora já ultrapassaram mais de 2 milhões e com certeza, vão chegar aos 3 milhões.
Conclusão: O Fim do Dogma ou Apenas uma Pausa?
Enfim, Dispatch não é uma revolução como se esperava, mas soa como uma adaptação darwiniana. A indústria de games, sangrando com demissões e fracassos, está forçando até os mais ideológicos a recuar. Agências de roteiros podem continuar consultando, mas o público dita as regras, os jogadores querem personagens e heróis carismáticos, não aulas de moral. Se Adhoc e outros seguirem esse caminho, talvez vejamos menos estúdios fechando em 2026. Ou será só uma tática temporária, até o próximo ciclo de “pautas seguras”? Uma coisa é certa: com 220k jogadores simultâneos apenas no Steam provando o ponto, o mercado ganhou essa rodada. E você, leitor? Prefere carisma ou catequese em seus games?
O jogo está disponível para PlayStation 5 e PC (Windows), via Steam. Seu sucesso foi tão expressivo que não houve necessidade de uma versão para Nintendo Switch, tampouco para Xbox Series, incluindo o Game Pass.

Fontes: SteamDB para dados de jogadores; entrevistas em Polygon e Variety sobre o elenco; relatórios da ESA sobre demissões na indústria. Opinião do autor, baseada em tendências observadas.
O conteúdo tem caráter informativo e analítico, não refletindo, necessariamente, a linha editorial do site.
