É curioso como, atualmente, muitas pessoas têm medo de dizer a verdade. Nunca fui um usuário assíduo do LinkedIn, mas parei para analisá-lo com mais atenção. A plataforma é útil para networking, acompanhar eventos profissionais e identificar pessoas com quem você pode se conectar ao longo do tempo. É evidente que o foco está no ambiente corporativo.
A perfeição forçada e o silêncio conveniente
No entanto, algo me incomoda profundamente: a atmosfera artificial. O LinkedIn parece mais um lugar para contar vantagem do que para promover discussões sinceras sobre o mercado de trabalho. As críticas quase não existem. As pessoas evitam qualquer posicionamento mais honesto com receio de represálias.
Um exemplo: quando alguém é demitido — seja um gerente, um executivo, um funcionário de base — raramente há relatos autênticos sobre os bastidores da saída. Ninguém menciona sobrecarga, cultura tóxica, assédio moral ou ambientes sufocantes. É sempre uma despedida cordial, recheada de gratidão genérica. A realidade, no entanto, pode ser bem diferente.
A sensação que o LinkedIn transmite é semelhante à de certos filmes de suspense, como “Corra!”. À primeira vista, tudo parece alegre e harmônico. Mas há um clima estranho, como se algo estivesse sendo encoberto nos bastidores.
Sim, a plataforma tem um valor inegável para conexões profissionais. É possível descobrir oportunidades, estreitar contatos e até conseguir um novo emprego. Mas existe um lado obscuro: o da perfeição forçada, onde qualquer crítica pode custar sua reputação. O medo de ser rotulado ou boicotado por dizer a verdade gera um ambiente irreal.
Se todas as empresas fossem perfeitas, não haveria rotatividade, nem casos de burnout, nem ambientes tóxicos. E não se trata de atacar empresários ou empresas de forma irresponsável. Existem, sim, bons e maus gestores, boas e más lideranças. O ponto aqui é: por que não podemos falar também do que está errado?
O preço de omitir a verdade no ambiente corporativo
Quando um colaborador enfrenta um ambiente insustentável — seja pela má gestão, pela falta de propósito ou pela ausência de perspectivas — e decide omitir isso publicamente, ele contribui para perpetuar um ciclo nocivo. Não é falta de ética expor um ambiente ruim. Pelo contrário, pode ser uma forma de alertar outras pessoas e evitar que passem pela mesma situação.
A omissão, muitas vezes, prejudica quem vem depois. Um novo funcionário pode entrar na empresa sem saber dos problemas estruturais e passar pelas mesmas dificuldades, apenas para repetir o roteiro: agradecer publicamente e sair calado.
Não se deve viver em função das empresas, tampouco romantizar vínculos corporativos. É uma troca: você oferece seu melhor desempenho, e a empresa deve oferecer reconhecimento, desenvolvimento e condições adequadas. Essa reciprocidade é a base de uma relação profissional saudável.
É hora de tornar o LinkedIn mais autêntico?
O LinkedIn é, sim, uma ferramenta relevante. Mas precisa evoluir para um espaço mais autêntico e democrático — onde a pluralidade de experiências, inclusive as negativas, tenha voz. Fingir que tudo é perfeito não contribui para o amadurecimento do mercado. Pelo contrário: alimenta uma cultura de silêncio e medo.
Fica a reflexão: será que não é hora de o LinkedIn deixar de ser um palco de aparências e se tornar um ambiente onde se possa falar a verdade — mesmo que ela incomode?