Testei a demo de Cairn, o novo projeto do estúdio independente The Game Bakers — o mesmo por trás de Furi e Haven. Por esse motivo, despertou minha atenção por saber da trama dos jogos desta desenvolvedora francesa. A proposta aqui é bem diferente dos trabalhos anteriores: em vez de combates frenéticos ou romance sci-fi, o foco é a escalada pura e crua de uma montanha imensa, onde cada movimento conta. Mesmo sendo apenas uma demonstração, já dá para sentir o peso, o desafio e o potencial de algo especial.
Essa minha prévia faz parte do Steam Next Fest de outubro de 2025, no qual escolho alguns jogos para testar antes do lançamento oficial, oferecendo uma opinião objetiva sobre o que me agradou, ao menos no conteúdo disponibilizado.
Acredito que os usuários que jogaram PEAK também possa se interessar por este jogo.
Logo de início, Cairn já tenta trazer uma ambientação do que os jogadores vão presenciar durante toda sua caminhada, ou melhor, escalada. Utilizando bastante da técnica de Free Solo quando o escalador não utiliza equipamentos de segurança para subir montanhas — mesmo que a personagem esteja com mochila e alguns equipamentos de segurança. Nossos recursos são limitados principalmente os parabolts, então devemos escolher com cuidado os pontos onde adicionaremos esse recurso para fixar a chapeleta, que servirá para prender o mosquetão.

A montanha parece viva, com vento, ecos e pequenas partículas nos adicionando ao clima hostil. O som é imersivo e minimalista, transmitindo solidão e concentração. Confesso, que podemos sentir esse momento, chegando ao ponto de buscar se há outros na mesma pedra. Visualmente, o jogo aposta em um estilo artístico limpo e contemplativo, sem exageros, mas cheio de personalidade. A sensação de isolamento e tensão é constante — e isso funciona muito bem. Principalmente com as mudanças climáticas e as variações entre o amanhecer, o entardecer e o anoitecer — o visual vai se transformando. O crepúsculo é realmente incrível e, ao olhar para o céu profundo, ele se torna estrelado, revelando o caminho da Via Láctea.
O grande destaque da demo está no sistema de escalada. É preciso pensar em cada movimento, calcular o fôlego do personagem e encontrar apoios seguros. A física até é convincente e transmite uma sensação real de esforço. Quando se alcança um ponto difícil, o alívio é genuíno. Esse ritmo mais cadenciado, quase meditativo, é o ponto forte de Cairn. Ele te obriga a desacelerar e observar o cenário, algo raro nos jogos atuais — fiz muito isso durante o teste.
Como tudo tem seus poréns, um deles é o “fôlego” da personagem Aava. Sendo uma montanhista, se você utiliza a corrida (sprint), em menos de três metros ela já para, como se estivesse extremamente exausta. Isso não faz muito sentido, considerando que ela é uma esportista — mesmo com a resistência e a vida cheias. Esse é um feedback que o estúdio deve corrigir.


Por outro lado, o controle pode ser um pouco rígido em alguns momentos. Há situações em que o personagem parece “grudar” na rocha de forma estranha ou perde o equilíbrio de forma abrupta.
Quando você pensa que a personagem está estabilizada na vertical, em uma rocha com até espaço para descanso, ela simplesmente começa a tremer, como se estivesse fazendo um grande esforço para se equilibrar onde não há necessidade. Mesmo quando temos certeza de que está em uma posição segura, em outro momento precisei descer até o acampamento para enfaixar os ferimentos em suas mãos. Sim, esse é um ponto que eu gosto — traz um realismo maior. Fiz ela descansar, alimentei, tratei suas feridas, e, ao retornar, ela ainda apresentava o mesmo problema de estar exausta.
Falando no descanso e na alimentação, se jogou Haven, o estúdio faz algo similar, é possível coletar alimentos, água para o cantil e fabricar comidas na Barraca de trekking que montamos em alguns pontos estratégicos para continuar na big wall. Todo esse esforço inicial é o início para o grande desafio “Mount Kami” ou Monte Kami.



A curva de aprendizado é relativamente alta, e quem espera algo mais direto pode estranhar. Além disso, a demo ainda carece de uma variedade maior de objetivos — por enquanto, a escalada é o centro absoluto, e o jogador pode sentir falta de mais elementos narrativos ou de progressão.
Outro ponto que poderia melhorar é o feedback visual durante a escalada. Às vezes é difícil entender se o personagem realmente tem energia para o próximo movimento, o que leva a quedas frustrantes. Um indicador mais claro ajudaria sem comprometer a imersão.
Conclusão para demo de Cairn
Mesmo com esses detalhes, Cairn deixa uma excelente primeira impressão. É um jogo com alma, que aposta na experiência e na sensação de conquista. O isolamento do montanhista com a beleza natural, é uma reflexão para instigar nossos objetivos. Se você jogar com perfeição em menos de 30 minutos consegue escalar o desafio inicial. Mas ao explorar outros meios para de possibilidades esse tempo aumenta.



Por fim, se a The Game Bakers mantiver essa base sólida e refinar a parte técnica com os feedbacks dos usuários, o resultado final tem tudo para ser promissor — assim sendo, um verdadeiro teste de paciência, técnica e resistência em meio à solidão das alturas. O título está agendado para ser lançado no primeiro trimestre de 2026 no console de PlayStation 5 e PC Windows via Steam.