“Space Adventure Cobra – The Awakening” é um jogo publicado para consoles e PC em 26 de agosto de 2025, inspirado no mangá Cobra (Kobura), criado e ilustrado pelo falecido mangaká Buichi Terasawa. A obra foi serializada originalmente pela revista Weekly Shōnen Jump entre 1978 e 1984. Ela foi uma das principais referências para outras produções, tanto no Japão quanto no Ocidente. O personagem, conhecido pela galáxia como um dos principais aventureiros e temido por muitos devido à quantidade de pessoas que desejavam seu fim, acabou modificando sua face. Originalmente era um homem de cabelos azulados e longos, com pele clara, mas mudou para loiro e cabelo mais curto, tudo isso cirurgicamente. Além disso, suas memórias foram apagadas para que ninguém pudesse localizá-lo.
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Essa introdução é importante para o jogador não ficar perdido ao jogar. Como o trabalho de Terasawa tinha uma classificação etária voltada mais para adultos, devido ao conteúdo em que alguns personagens apareciam, no Brasil seu alcance pode ter sido menor. Por isso, você deve estar se perguntando quem é Cobra — e não estou falando do vilão de Comandos em Ação ou G.I. Joe, como queira chamar.
Apesar da mistura de ficção científica psicodélica, estética pulp, erotismo, humor e um herói carismático, a obra moldou muito do que veio depois. Ele simplesmente influenciou outros autores de mangá, filmes, games e mais. Se você conhece Cowboy Bebop, Captain Harlock, Metal Gear Solid, Berserk, o próprio filme Guardiões da Galáxia, de James Gunn, possui influência e inspiração em Cobra — e eu poderia citar vários outros.
Isso mostra a importância da criação do mangaká, que infelizmente faleceu em 2023 vítima de um infarto do miocárdio. Havia muito tempo que eu não consumia conteúdo de Cobra e resolvi assistir ao longa-metragem de 1982, homônimo ao jogo (exceto por não levar Awakening). Posso afirmar que os traços de todos os personagens estavam acima do seu tempo. O autor gostava do “belo” e cada elemento não perde, no conceito artístico, para nenhum anime da atualidade ou animação.
Evidentemente, o conceito das sequências de ação é notoriamente diferente da atualidade, trazendo na época conversas mais reflexivas — visto que uma das personagens centrais já falava de conquistas femininas e como elas deveriam lutar. Além disso, há a crítica à opressão de governos corruptos que querem apenas dominar e não entregar o que foi prometido.

Os personagens icônicos estão no jogo
Apesar de Cobra ser um personagem que hoje muitos poderiam considerar “fanfarão”, ele consegue ser carismático. Sempre ao lado de sua inseparável e leal androide Lady Armaroid, que possui aparência de trato feminino, mas estética andrógena. Esse não é o primeiro título da franquia nos games; contudo, é o mais atual e tenta trazer momentos da saga do desmemoriado Johnson. A maioria dos outros jogos foi lançada para arcade (fliperama) e pachinko, muito popular na Ásia devido à sua temática e ao visual instigante das personagens.
Space Adventure Cobra – The Awakening traz toda a dinâmica dos personagens conhecidos da trama original, desde um dos vilões recorrentes, como Crystal Bowie, até Sandra e a destemida e apaixonante Jane Flowers, Dominique e outros. O título busca apresentar toda a primeira temporada do anime. Como mencionei no artigo, ele foi publicado até 1984 e depois outras editoras assumiram suas continuações, expandindo ainda mais o legado da obra.



Visualmente, o jogo é bem trabalhado — percebemos os detalhes de cada personagem e, principalmente, os diálogos estão literalmente fiéis ao original. Se tratando de um jogo considerado de baixo orçamento, foi interessante o empenho em desenvolver bem esses elementos. Embora nem tudo sejam flores, a Magic Pockets, desenvolvedora do jogo com apoio da Microids, conseguiu trazer nostalgia aos fãs no quesito visual. Dito isso, com uma longa introdução e exibição dos acertos no design de arte…
É o momento de adentrar na jornada de Cobra e sua peregrinação para derrotar todos aqueles que estão novamente lhe caçando pela galáxia. Essa aventura nos games possui 12 capítulos, que você pode levar de 10 a 13 horas para finalizar, dependendo da dificuldade e também da rejogabilidade, tentando expandir habilidades não disponíveis na primeira vez que jogou.
Recomendo conhecer um pouco do enredo e da temática dos poderes do personagem através dos animes e mangás. Com certeza, você ficará atraído por esta franquia. O título é simples: temos um 2.5D que fará o jogador andar pelos cenários e atirar em tudo que se mexe — bem ao estilo dos Run and gun (correr e atirar) jogos clássicos dos anos 90.
Psycho Gun e seu elemento surpresa
A mítica Psycho Gun — abusaremos de seus poderes. Se você não sabe, é a arma letal que transforma seu antebraço em um poderoso canhão de laser, que pode ser potencializado e também utilizado para atingir vários inimigos no mesmo cenário. Uma verdadeira “python” ou anaconda pelo alcance, com feixes controlados pelo próprio jogador. Essa função também ajuda nos quebra-cabeças, que possuem um determinado tempo para serem completados — caso contrário, são reiniciados, impedindo o avanço no cenário. O estilo de ataque corpo a corpo presente no jogo e o dash ao estilo Mega Man (apesar de muitos dizerem que o jogo da Capcom possui inspirações na criação de Buichi Terasawa, não apenas em Astro Boy).
Os fãs que conhecem o personagem e tudo o que ele faz vão se sentir representados, principalmente os que acompanharam sua jornada no anime. Um adendo: algumas cenas não representam totalmente o anime, com cortes consideráveis de personagens para se equalizar ao que o atual momento exige, sem forçar um ‘gooner‘. A recriação dos recursos originais de Cobra no combate foi feita com propriedade.

Mas acredito que muita coisa para por aí. Ele nunca teve um jogo de grande orçamento no Ocidente que pudesse gerar uma grande comoção. Os cenários, que tentam exibir uma atmosfera fiel à franquia original, só são reconhecidos por quem está dentro desse universo.
No pano de fundo há uma paisagem intensa e coisas acontecendo — até usam esses locais para o personagem receber ataques, ficando apenas nisso. Talvez o orçamento investido não tenha proporcionado algo maior, comprometendo a imersão que a série possui. Um detalhe interessante é a opção de jogar com outra pessoa, controlando outras versões do Cobra e de seus aliados como Lady e Jane, possibilitando jogar no mesmo console (PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC via Steam), com opção de compartilhamento remote play.
No quesito diversão, é um jogo interessante e gostei de jogar. Mas, como desafio ou quebra-cabeças mais intensos e mecânicas de gameplay inovadoras, isso ele não possui. Exceto pelo que já comentei: a Psycho Gun permite controlar ataques em diversos oponentes, oferecendo mais opções de controle.
Caso o jogador consiga uma mira perfeita ao controlar o caminho que a python fará até os inimigos, uma animação é exibida mostrando seu êxito. O pulo duplo foi trocado pelo dash no alto e pela opção de utilizar um impulso para ir mais longe. Em algumas partes, tive um pouco de dificuldade, mesmo não sendo difícil — parecia que o controle não respondia como eu queria e acabava caindo. (Acho que o problema era eu, e não o jogo, vai saber.)

Cada missão representa uma parte da trama original do anime, mudando os inimigos conforme o cenário, mas a mecânica é sempre a mesma: atirar, pular, dar dash e usar sua Psycho Gun. O modo como devemos passar os locais parece que só foi substituído por skins e pronto. Isso não é ruim quando há uma trama para seguir. O jogo tem isso. Compreendo que tiveram que picotar muito do enredo para encaixar no formato atual, entretanto acredito que, com maior ousadia, poderiam ter ido mais longe.
Tema nostálgico recebe novos arranjos
A trilha sonora do jogo, em geral, não é unânime, mas é agradável de ouvir, sem causar enjoo ou estranheza. A canção tema está presente no jogo, mas com uma repaginada: uma versão cover de “Cobra”, de Jon Garnier, com participação de Tricia Evy — cantora guadalupense nascida no arquipélago francês e que cresceu em Le Moule, na França. Ouvi a original e esta versão, e posso dizer que a harmonia caiu perfeitamente na voz de Tricia. Quem acessa o site sabe que gosto de elaborar diversas análises das trilhas sonoras de jogos e filmes. Se tiver curiosidade, no início deste artigo adicionei o vídeo oficial da abertura da trilha sonora do jogo para suas audições.
O compilado dos 12 primeiros episódios do anime, recriados no jogo Space Adventure Cobra – The Awakening, o personagem que influenciou gerações, é nostálgico para fãs. Porém, aos que desejavam um jogo mais dinâmico, verão um título mais cadenciado. Ficou claro que tentaram utilizar o orçamento para criar personagens similares ao original, mas as mecânicas inovadoras e o gameplay ficaram um pouco longe do esperado.
Ainda assim, é um jogo que considero uma boa oportunidade para quem deseja explorar opções e abusar dos speedruns. Sim, o jogo lhe dá essa chance — mesmo que alguns cenários tenham intervalos para quebra-cabeças, avançar rapidamente é possível. O jogo ainda observa o tempo gasto por missão e oferece um rank de aproveitamento (A, B, C, etc.). Isso estimula reduzir o tempo total de 10–12 horas para menos de 8 — ou, se descobrir um bug, terminar em poucos minutos. Já pensou nessa possibilidade?

Enfim… Gamerdito (Veredito) de Space Adventure Cobra – The Awakening
No quesito vilão, cada um possui um estilo e sequência que podemos memorizar para vencer. Não são difíceis, mas é interessante ficar ligado aos detalhes para não ter que recomeçar todas as vezes. No início, até pode haver momentos em que perder vida será normal; depois, com a curva de aprendizado finalizada, torna-se mais comum avançar mais rapidamente.
Por fim, Space Adventure Cobra – The Awakening é um jogo em que seus desenvolvedores apostaram na memória de Cobra, uma franquia de grandes referências para a indústria do entretenimento. Mas, mesmo com todo o capricho dos cenários e personagens, faltou mais empenho em novas propostas. O loop de gameplay é um limitador, carecendo de profundidade mecânica. Alguns cortes estranhos de cenas acabam tirando um pouco da imersão. Fora isso, recomendo para quem pretende conhecer mais uma história dramática que estava à frente do seu tempo.
Aos fãs de longa data, mesmo sem a localização em português brasileiro, será fácil compreender todos os dilemas abordados pelos personagens. Devido à baixa popularidade da franquia no Brasil e ao orçamento limitado, o título não recebeu uma localização oficial em nosso idioma.
Finalizo esta review com uma nota 7,5/10 para o jogo Space Adventure Cobra – The Awakening.
Agradeço à Microids pela chave do jogo, que nos proporcionou desenvolver a review na versão de PC Windows via Steam. Essa análise foi escrita na primeira semana de setembro, entretanto, revisada apenas em novembro de 2025.
