Quando a Telltale trouxe uma proposta de adicionar histórias conhecidas da cultura popular com elementos narrativos à indústria dos games, foi algo visto como positivo. Ao criar jogos que faziam o jogador se sentir lendo um quadrinho (HQ) diretamente nas telas, o estúdio despertou nossa imaginação e entregou experiências imersivas. Com o tempo, foram investindo cada vez mais — ora acertando, ora não — apostando não apenas nos consoles, mas também no PC e em dispositivos móveis.
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Tudo isso foi incrível e deixou títulos marcantes como The Walking Dead, Minecraft, Borderlands, Batman, Guardiões da Galáxia, CSI, The Wolf Among Us — cuja sequência é aguardada até hoje pelos fãs — entre outros.
O único problema é que jogos baseados em franquias famosas exigem royalties elevados. Caso um título não alcance o sucesso esperado, pode gerar grandes prejuízos para o estúdio. Pelos números de vendas, ficou claro que não era o suficiente, já que a empresa precisou pedir concordata para encerrar suas atividades sem aumentar o prejuízo final dos diretores. Isso gerou grandes controvérsias entre os desenvolvedores, e, depois de um tempo, a Telltale foi adquirida por um grupo de investimento. Ainda assim, não conseguiu recuperar sua independência como muitos desejavam.

Mas por que toda essa introdução longa para chegar ao assunto principal — o jogo narrativo Dispatch?
Exatamente porque os desenvolvedores da antiga Telltale Games perceberam que criar histórias originais é capaz de despertar novamente a atenção do público e da comunidade gamer. Neste momento, estou deixando de lado a trama do jogo, já que ela foi explicada em outro artigo nesta página.
Se somarmos os 5 principais lançamentos do gênero publicado pela antiga empresa que ultrapassaram 10 mil jogadores simultâneos, chegamos a um empate técnico de quase 66 mil usuários; — somente com Dispatch — um número que mostra o impacto de uma narrativa bem trabalhada e contextualizada. Estou falando em um momento em que a indústria dos games enfrenta desconfiança de sua maior audiência: o público.

Dispatch, desenvolvido pela AdHoc Studio, com apoio de grandes nomes da dublagem e roteiro inspirado em super-heróis e vilões das principais HQs do mercado, foi uma aposta certeira! O interessante é que, se essa audiência continuar crescendo e o desfecho dos oito episódios agradar o público, podemos ver continuações e até expansões para outras mídias — por conta própria já existem quatro histórias em quadrinhos. Agora, imagine poder explorar essas possibilidades em uma série oficial para streaming ou até em um filme no futuro.
Se o estúdio souber aproveitar esse “hype” e licenciar spin-offs e produtos derivados, pode dar a volta por cima em relação ao passado promissor da Telltale Games. Evidentemente, o público exigirá novas propriedades intelectuais tão boas quanto esta.
Apesar de este artigo ter sido escrito antes da liberação de todos os episódios — e dependendo da época em que estiver lendo, o capítulo final já possa ter sido lançado — acredito que estamos presenciando algo não inédito, mas um retorno que reacende a atenção dos jogadores, embalado pelo sucesso improvável de franquias como The Boys e Invencível.


A inspiração ousada, mas sem extrapolar o orçamento em franquias já consagradas, foi o que manteve a mente criativa instigada. Dizem que é sob pressão que muitos trabalham melhor — e, nesse caso, os veteranos da antiga Telltale Games entenderam que o recomeço não precisa ser grandioso. Basta dar um passo de cada vez, trabalhar com seriedade, ouvir os feedbacks e aprender com os erros do passado para imortalizar uma nova franquia.
Ainda não é possível comentar o custo dessa produção, mas uma coisa é certa: eles já alcançaram — e estão alcançando — bons dígitos.
Por fim, Dispatch, o ovo de ouro do novo estúdio focado em graphic novels interativas, está disponível para PlayStation 5 e PC (via Steam).
