Com o anúncio da compra oficial da Netflix pelo conglomerado da Warner Bros., surgiram comentários mistos que me surpreenderam pela negatividade, mais até do que quando a Disney anunciou a compra dos estúdios da 20th Century FOX. Contudo, não é isso que mais me preocupou, pois aquisições sempre existiram e esta não será a última.
Lembro quando era um usuário ativo do MySpace e também dava suporte para os usuários e, nessa época de 2002, até fui entrevistado pela Revista Época para comentar sobre o fenômeno das redes sociais. A própria News Corporation, conglomerado de mídia do qual o grupo Fox fazia parte, liderado por Rupert Murdoch, em julho de 2005 adquiriu esta plataforma por um valor de US$ 580 milhões.
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Pouco tempo depois, o site deixou de ser o que era em sua essência, com uma liberdade única de criar perfis utilizando códigos de CSS e focar em bandas novas que estavam surgindo. Poderia ser leviano ao dizer que a aquisição do MySpace naquele momento foi uma estratégia para segurar os avanços da plataforma, já que músicos que mais tarde seriam consagrados estavam surgindo sem a necessidade de uma gravadora.
Lembrando que, naquele momento, as gravadoras ainda tinham controle sobre o que tocava nas rádios e lucravam muito com esse material. Diferente do panorama atual em 2025, em que muitas fecharam ou tiveram que mudar estratégias e passaram a ganhar com direitos autorais em cima da obra dos artistas em plataformas de vídeos, reivindicando Adsense ao detectar uma música.
Caso parecido aconteceu com o PureVolume. Era um site para a descoberta e promoção de novas músicas e artistas emergentes. Sua missão era oferecer aos artistas uma nova ferramenta de visibilidade. Cada artista tinha um perfil que geralmente continha informações básicas, atualizações, fotos, shows e músicas para streaming. Cresceu tanto que despertou atenção da empresa SpinMedia (anteriormente BuzzMedia), que efetuou sua aquisição. Lembro como se fosse hoje das promessas de adicionar atualizações para os usuários terem uma imersão maior. Seria algo que o Spotify e o Deezer são hoje, algo que nunca implementaram, já que pouco tempo depois o site seria descontinuado com o seu formato original.
Logo, o site simplesmente encerrou suas atividades em 2016 e, pouco tempo depois, retornou com uma nova roupagem. Já não era mais um site de música, mas algo similar ao TMZ, com informações mais voltadas para celebridades e notas curtas, em vez do que era o seu legado. Nessa altura, os fundadores já não faziam mais parte há anos.
Mas o que isso tem a ver com a manchete desta publicação? Simples. A Netflix atualmente deseja ter um alcance maior em outras mídias. O sindicato dos cinemas sabe que a gigante dos streamings possui janelas curtas ou quase inexistentes nos cinemas, no máximo para conseguir concorrer ao Oscar. Ted Sarandos sabe que a pressão do sindicato será grande, mesmo que o dinheiro compre quase tudo no showbiz. Essa é uma discussão que envolve bilhões, mexendo não só com uma empresa, mas com centenas e até milhares.
Será o fim dos programas de afiliados da Warner Bros para o HBO Max?
A empresa conhece seu valor de mercado com suas franquias consagradas e material produzido pelo conjunto da obra. Atualmente, muitas empresas de streaming focam em publicidade por meio de afiliados, que consiste em pagar uma porcentagem para parceiros que consigam levar usuários para seus serviços. Seja por CPC (custo por clique), CPA (custo por aquisição) e outros formatos. Assim vira uma produção bilateral, beneficiando ambos os lados. Essas plataformas conseguiram novos clientes através de sites de notícias e criadores de conteúdo baseados neste tipo de trabalho. É uma parceria mútua extremamente interessante.
Ademais, a HBO Max possui afiliados com diversos canais. Se a Netflix tomar posse, essa opção poderá ser declinada e criar um efeito dominó. Compreendo que o mercado se adapta, mas fontes de renda podem acabar de uma vez por todas. Desde que a gigante do streaming se consolidou e percebeu que recebia propaganda gratuita, ela encerrou esse tipo de promoção em sua plataforma. O mesmo pode ocorrer se a concretização desta negociação for adiante.
Esse futuro monopólio somente alerta não é uma opinião contrária ao acordo, até porque negócios são negócios. Mas fica como alerta aos sites de notícias e criadores de conteúdo para já buscarem outros meios de divulgação para uma renda extra. Afinal, sabemos que a marca do N vermelho possui seu próprio time de divulgação sem aberturas. O que posso supor é que isso pode gerar entre milhões e até bilhões de prejuízo em dólares, se ocorrer um desligamento em escala global.
Isso pode ser um indício. Falando francamente, desejo que o relacionamento que existe atualmente na Warner Bros em relação ao HBO Max com seus parceiros não seja alterado.
Feito isso, haverá uma esperança de os parceiros afiliados terem um momento bilateral em vez de apenas unilateral, quando apenas um lado sai ganhando. Essa transição está somente começando e o governo americano está analisando se cairá na lei antitruste ou se as negociações irão prosseguir.
